sábado, 12 de junho de 2010

O Profeta do acontecido (agora lembrando de Corinthians 4 X 2 Santos, maio de 2010, volto a 2008).

Caríssimos, tenho uma vertigem pelo óbvio e não há assunto martelado, visto e revisto, que não deixe de chamar minha atenção. Sou absolutamente previsível. Daí poderia justificar o assunto desse meu retorno ao Macaco evocando as idiossincrasias de cada um a cada dia (nesse caso específico, as minhas, desta semana). Mas, caso fizesse isso, não diria a verdade. Mesmo que a verdade não seja tão importante assim, insisto nela porque a que estou prestes a revelar justamente não parece verdadeira (é mais uma dessas verdades inverossímeis): escrevo sobre o rebaixamento do Corinthians, e não porque este é o assunto do dia. Difícil de acreditar, reconheço. Afinal, por que se falaria disto senão porque não se pára de falar disso? Como não ver nisso o desprezo, e diria, o despeito típico do secador vocacional, que todos guardamos dentro de nós? Não, senhores, mesmo com todos esses senãos, não é o óbvio que me obriga a falar do Corinthians. A verdade me veio com os fumos de profeta, porque tive uma súbita visão indiferente sábado pela manhã, e é enfim disso que falo: o “inevitavelmente o Corinthians cairia” calou em mim qualquer forma de juízo ou consideração. Apenas apareceu simplesmente verdadeiro e incontornável. Advirto: não sou corintiano, e (de novo, difícil reconhecer) não me importava mais o destino do corintianos. Justamente por isso fui assolado pela verdade e clarividência injustificada da profecia. Acordei, e pela manhã de sábado, um nova certeza invadira minha vida. A marca mais certa dessa profecia, entretanto, não vem tanto da certeza de que fui veículo, mas principalmente de meu desinteresse pelo assunto. Domingo pude assistir ao jogo acompanhando quase indiferente o desespero e o desabafo da torcida corintiana, e não porque seja insensível ao sofrimento do outro, mas simplesmente porque o sabia inevitável.
Não sou, entretanto, sempre profeta.
Dormindo havia três noites em uma casa em ruínas em meio a uma outra série de ruínas (os restos inaproveitáveis dos outros) sequer lembrava do dia de Juízo Final que os corintianos enfrentariam no Domingo, dia do Senhor, e se afinal se safariam ou não da espada do Vingador.
Explico-me: mudando-me em uma debandada coletiva da Apinajés, sob os solavancos do improviso e do desencontro, cada dia meu desta última semana assumira o ar de um épico: livros, cama, mesa, abajur, confissões atrasadas cada coisa com um destino diferente adiava meu próprio destino, e foi quando me vi dormindo sozinho em um colchão, em uma casa pronta para ser mal assombrada, por outros que não os já quase antigos moradores. Alheio a tudo, eu mal conseguia coordenar meu próximo destino, melhor, minha próxima parada. E só agora percebo o motivo (e não a explicação) profundo de minha profecia. Houve nisso tudo uma inesperada comunhão. A minha mudança foi completamente corintiana, o processo de mudança foi uma longa campanha corintiana, meu último sábado na Apinajés foi um último domingo corintiano: tive, sem me dar conta, a suprema experiência corintiana, por antecipação.
E no sábado, que para mim já era domingo, vivi a certeza serena da derrota.

A voz do maior do mundo

Diz a voz do povo que tudo é relativo. E para aqueles que são objetos de toda forma de violência disponível, convenhamos, o relativo faz muito sentido. Mas ainda há diferenças fundamentais no mundo. Para me fazer entender uso um exemplo trivial e familiar. Vejamos um dos significados de “piada”: história curta de final surpreendente, às vezes picante ou obscena, contada para provocar risos
Ex.: contou uma p. grosseira sobre um macaco lascivo

Ora, quem diz o que é picante ou obsceno? Já me vem à memória meu querido primo Tião, exatamente o maior corintiano do mundo. De todo seu imenso repertório de piadas, se contasse todas, digamos, na mesa do Bar do Soni na Afonso Bovero, talvez lembraríamos de um ou duas piadas marcantes (escrevo marcante, não picante). Mas ele tinha o saudável hábito de contá-las no almoço de família. Reproduzo apenas uma palavra de uma famosa piada sua: “manipular”. Manipular no Bar do Soni é quase uma palavra trivial, em um almoço de família, o obsceno gesto de um macaco lascivo. Resumo: tudo é relativo, mas às vezes o lugar em que se diz as coisas faz alguma diferença.
Chego finalmente aonde queria: há algumas colunas atrás revelava uma verdade: Ronaldinho Gaúcho era apenas um susto mal compreendido (pela legião de puxa-sacos que o cerca), um novo Zico, sem a aura da torcida rubro-negra. Vi-me envolvido em uma cruenta polêmica, e repito, não sou homem de polêmicas.
No último jogo pela seleção, O Maior do Mundo falou: PIPOQUEIRO (no maior do mundo só se fala em caixa alta). Repito PIPOQUEIRO. Falou, está falado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário